Por Renato Salles
05/01/2020 às 07h00- Atualizada 05/01/2020 às 10h37
Desde as eleições municipais realizadas em 15 de novembro de 1982 até os dias de hoje, a população de Juiz de Fora já compareceu às urnas em nove processos eleitorais para escolher quem seria o ocupante da Prefeitura. Em nove oportunidades, entretanto, apenas quatro nomes saíram vitoriosos e com a chancela popular para assumir o principal cargo político do Município: Tarcísio Delgado, que venceu em 1982, 1996 e 2000; Carlos Alberto Bejani, 1988 e 2004; Custódio Mattos, 1992 e 2008; e Bruno Siqueira, 2012 e 2016.
Em um hiato de pouco mais de 37 anos, as eleições de 2020 marcarão a primeira vez na história em que nenhum dos quatro nomes aparece entre os possíveis candidatos à sucessão municipal, em um pleito que deve ser marcado pelo embate de veteranos da política local e estreantes nas contendas eleitorais.
Alçado ao comando da Prefeitura após a renúncia do ex-prefeito Bruno Siqueira (MDB) em abril de 2018, Antônio Almas (PSDB) deve tentar a reeleição e colocar, pela primeira vez, seu nome para a apreciação do eleitorado juiz-forano como cabeça de chapa de uma candidatura majoritária. Além de trazer consigo a experiência de comandar o Poder Executivo municipal em um momento de grandes dificuldades financeiras, Almas é também o mais “veterano” entre os pré-candidatos especulados nos bastidores da política da cidade. Ao menos, quando levado em consideração o exercício de cargos eletivos. O tucano foi vereador em duas legislaturas (1993-1996 e 1997-2000) e candidato a vice-prefeito nas eleições de 2004, na chapa encabeçada por Custódio Mattos, e de 2016, quando a composição puxada por Bruno Siqueira saiu vitoriosa das urnas.
Outra veterana que pode retornar a contenda pela Prefeitura é a deputada federal Margarida Salomão, que vem sendo apontada como possível candidata do PT nas eleições de outubro. Caso as especulações sejam confirmadas, esta será a quarta vez que a deputada federal por três mandatos (entre 2011 e 2015; 2015 e 2019; e na atual Legislatura, de 2019 a 2023) tentará chegar ao Executivo juiz-forano. Sempre que se lançou como opção, a petista chegou ao segundo turno, sendo derrotada em 2008 por Custódio Mattos; e em 2012 e 2016, por Bruno Siqueira. Além das experiências eleitorais e na Câmara dos Deputados, Margarida acumula ainda duas passagens pelo comando da Reitoria da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), entre 1998 e 2006.
Trajetória ascendente
Entre os nomes especulados que têm em suas bagagens experiências na vida pública, aparecem ainda o do deputado estadual Noraldino Júnior (PSC). O parlamentar já disputou a Prefeitura em 2016, quando foi o terceiro mais votado, ficando atrás de Bruno e Margarida. Em sua trajetória eleitoral, Noraldino se elegeu vereador em 2008 e 2012 e deputado nas eleições de 2014 e 2018. Outra ocupante de uma cadeira na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) apontada como possível candidata à Prefeitura é a deputada estadual Sheila Oliveira (PSL). Sem ser exatamente uma veterana na política eleitoral, a delegada da Polícia Civil coleciona bons resultados nas urnas e uma trajetória meteórica, tendo sido a vereadora mais votada da história da cidade nas eleições de 2016. Também foi a mais votada em Juiz de Fora entre os candidatos a deputado estadual no pleito realizado há pouco mais de um ano.
Tradição local de 25 anos pode ser mantida
Caso confirme sua candidatura à PJF, Sheila reforça uma tradição na política local de Juiz de Fora: a de que os candidatos mais votados na cidade em uma eleição geral ressurjam como postulantes ao Executivo municipal dois anos depois. Nos últimos 25 anos, todos os nomes mais votados em Juiz de Fora na corrida pela ALMG disputaram a Prefeitura. Em 2014, Noraldino foi reeleito deputado estadual com a maior votação nas urnas da cidade e testou seu nome como candidato a prefeito dois anos depois. Em 2012, o ex-prefeito Bruno Siqueira (MDB) venceu as eleições após ter sido o deputado estadual mais votado nas urnas locais em 2010.
O mesmo aconteceu em 2002, quando o também ex-prefeito Alberto Bejani foi o mais lembrado nas seções juiz-foranas na disputa por cadeiras na ALMG e se elegeu prefeito em 2004. Em 1998, Bejani já havia sido o deputado estadual mais votado no município e disputou a Prefeitura em 2000, quando acabou derrotado por Tarcísio Delgado no segundo turno. Em 1996, Sebastião Helvécio foi o mais lembrado pelos juiz-foranos. Candidato a prefeito dois anos depois, ficou na quarta colocação em pleito também vencido por Tarcísio.
MDB
Entre aqueles que já exerceram cargos eletivos, outro especulado como possível candidato à Prefeitura é o ex-vereador e ex-deputado estadual Isauro Calais (MDB). Seu nome é visto como uma opção interna do MDB, caso a sigla opte por candidatura própria. Cabe lembrar que os emedebistas integram o primeiro escalão do prefeito Antônio Almas e, também por conta disso, o apoio do partido ao projeto de reeleição de Almas também é aventado.
Novatos em cargos eletivos miram Executivo
Em contraposição aos nomes especulados como pré-candidatos à Prefeitura de Juiz de Fora que já obtiveram, de alguma forma, sucesso nas urnas, outros quadros buscam o respaldo do eleitorado diretamente em uma eleição majoritária. Um nome que é considerado praticamente certo na corrida pelo Executivo Municipal é o de Wilson Rezende, do Grupo Rezato, que deve retornar à disputa pelo PSB. O empresário foi candidato a prefeito nas últimas eleições, em 2016, quando foi o quarto mais votado. A despeito da boa votação em sua primeira candidatura, Wilson descartou uma candidatura a deputado em 2018 e mantém foco no anseio de chegar à PJF.
O próximo processo eleitoral ainda deve trazer alguns debutes. Em setembro do ano passado, uma possível candidatura do médico e presidente da Santa Casa de Misericórdia de Juiz de Fora, Renato Loures, ganhou força após o presidente da República Jair Bolsonaro (PSL) ter sinalizado apoio a um projeto encabeçado pelo responsável pelo hospital, que fez os primeiros atendimentos do presidente após o atentado à faca sofrido na cidade durante ato de campanha em 2018. Neste ínterim, Renato Loures, inclusive, desfiliou-se do PDT, sigla da qual era um dos fundadores na cidade, podendo seguir caminho apontado pelo grupo de Bolsonaro, que ainda corre para formatar um novo partido, o Aliança pelo Brasil.
Também é considerada como certa uma candidatura à Prefeitura do Partido Novo, que ganhou espaço em Minas Gerais após a eleição do governador Romeu Zema (Novo) em 2018. O nome, no entanto depende ainda de debate interno feito pela legenda, que faz suas indicações a partir da realização de processos seletivos próprios. O possível candidato mais especulado até aqui é o vice-presidente do Sistema FIEMG e presidente do Centro Industrial de Juiz de Fora e do Sindimeias-JF, Tadeu Monteiro de Barros. Ele é empresário e sócio-diretor da Meias Young.
Há especulações envolvendo ainda outros nomes. A delegada da Polícia Civil Ione Barbosa vem sendo apontada nos bastidores da política juiz-forana como possível candidata e já teria conversado com alguns partidos. Um possível destino da delegada poderia ser o PRB, legenda que hoje abriga o deputado federal Lafayette Andrada, que disputou a corrida pela PJF em 2016, mas que não deve retornar à contenda. Outro que busca uma legenda para abrigar um possível projeto de chegar ao Poder Executivo municipal é o pastor Aloizio Penido, ligado à Primeira Igreja Batista Municipal.
Partidos que se fizeram presentes em eleições municipais recentes também devem voltar à disputa no pleito de outubro. Entre eles, o PSOL e o PSTU, que, em 2016, lançaram Maria Ângela e Victória Mello, respectivamente, como candidatas à Prefeitura de Juiz de Fora.
Disputa pode promover troca de partido no atacado na Câmara
A expectativa de um grande número de postulantes à Prefeitura de Juiz de Fora se deve não só ao momento político de ebulição pelo qual passa o país nos últimos anos, mas também pelas novas regras eleitorais, como a que proíbe as coligações entre partidos na disputa por cadeiras na Câmara. Com as legendas disputando espaço no Legislativo de forma isolada, algumas siglas devem apostar no lançamento de projeto próprios à PJF para tentar impulsionar a votação de seus candidatos à Câmara. Somado a isto, a Lei dos Partidos Políticos prevê que os atuais vereadores possam trocar de legendas sem risco de perder seus mandatos durante a chamada janela partidária em abril, no período de 30 dias que antecede o prazo de filiação exigido em lei para concorrer à eleição. Tais conjunturas devem resultar em um intensa troca de partido entre os parlamentares que integram a atual Legislatura na Câmara Municipal.
As especulações são diversas.
Nos bastidores, a possibilidade de que alguns vereadores abram mão de tentar a reeleição para integrar um projeto pela PJF como candidato a vice-prefeito também são aventadas, o que implicaria na indicação de apadrinhados políticos para o Poder Legislativo.
Os nomes como os de Ana Rossignoli (MDB) a Kennedy Ribeiro (MDB) já foram ventilados em tais cenários, o que poderia resultar em possíveis trocas de partido. Outras mudanças já são dadas como certas. Antes no PHS, legenda que não atingiu a cláusula de desempenho nas eleições de 2018 e foi anexada pelo Podemos, Adriano Miranda e Rodrigo Mattos já oficializaram suas saídas da sigla e, no momento, estão “sem partido”. O primeiro estaria conversando com o PRTB e o segundo com o Cidadania – que também pode abrigar Wagner França (PTB). Também eleito pelo PHS, Júlio Obama Jr. segue no Podemos.
O PTC também não atingiu a cláusula de desempenho em 2018, ficando sem acesso a prerrogativas como fundo eleitoral e tempo na propaganda de rádio e TV. O partido tem três vereadores na atual legislatura – José Fiorilo, Luiz Otávio Coelho (Pardal) e Nilton Militão – que devem buscar novas siglas. Do trio, especula-se uma aproximação de Pardal do PSL, legenda que também poderia receber André Mariano, que hoje está no PSC. Já Militão conversaria com o PSD. Há ainda especulações sobre a desidratação da bancada do MDB, com as possíveis saídas de Antônio Aguiar e Marlon Siqueira, que, respectivamente, poderiam seguir para o DEM e para o PP. Outras mudanças também não podem ser descartadas entre os demais vereadores.
Secretários
Entre os integrantes do primeiro escalão do prefeito Antônio Almas, três nomes devem se lançar candidatos nas eleições de outubro. O secretário de Esporte e Lazer, Júlio Gasparette (MDB) e o superintendente do Procon, Eduardo Schröeder (PSDB), devem tentar uma cadeira na Câmara. Gasparette, inclusive, já exerceu quatro mandatos no Legislativo municipal. Já o secretário de Governo, Bebeto Faria (PP) é cotado para disputar a Prefeitura de Santos Dumont, cargo que já exerceu anteriormente.
A expectativa de um grande número de postulantes à PJF se deve às novas regras eleitorais, como a que proíbe as coligações entre partidos na disputa por cadeiras na Câmara. (Fonte: www.tribunademinas.com.br)