Moradores da capital e de outras cidades do estado de São Paulo têm relatado dificuldades para comprar gás de cozinha. Esse ainda não é o cenário em Minas Gerais, mas uma baixa no abastecimento tem gerado preocupação em revendedores, pelo menos desde a intensificação das recomendações de isolamento social no país. O desabastecimento é um dos desdobramentos da pandemia do coronavírus.
"Está faltando. Eu solicitei 40 botijões a uma das companhias em que compro e vieram 15. Estão fracionando os pedidos para atender a todos. Estamos vendendo mais também. Aqui, está quase dobrando a quantidade de vendas. A justificativa é que não está tendo produção, que teve diminuição de funcionários", conta Jonathas Moreira, que revende gás de cozinha de três distribuidoras diferentes no bairro Ouro Preto, em BH.
Com uma delas, ele relata que não conseguiu reposição desde o início da recomendação de isolamento social. Com a segunda, conta que a carga tem demorado a chegar, mas vem completa. Em relação à terceira, segundo Jonathas, a carga vem fracionada, porém mais rápido que as outras duas.
Isso já vem ocorrendo há cerca de duas semanas. De acordo com o revendedor, sua segurança foi que ele tinha um estoque de 140 botijões. Diariamente, a média em seu depósito é de 60 a 70 estocados, mas nesta terça (31), quando em contato com a reportagem, relatou que tem menos de 30. As vendas têm sido maiores com o temor da população, mas a preocupação de Jonathas e outros revendedores é com o desabastecimento da carga e a possibilidade de ficar sem estoque.
Além do fato de a população estar comprando mais que o normal por medo que que falte gás, o processo do refino do petróleo também pode dar justificativas para a baixa no abastecimento.
Em busca de explicações
Toda essa situação tem sido observada de perto pela Associação Brasileira dos Revendedores de Gás Liquefeito (ASMIRG), cujo escritório principal fica em Belo Horizonte. Segundo o presidente da Associação, Alexandre Bonjaili, uma das justificativas para o desabastecimento vem do processo do refino do petróleo, do qual sai o Gás Liquefeito de Petróleo (GLP), o popular gás de cozinha.
"Existem dois parâmetros para a questão do desabastecimento. Uma é a questão do tempo necessário com o processo de importação, que certamente deveria ter sido previsto. Digo isso em nível de autoridades. A outra é uma questão relacionada à capacidade de refino. Na hora que escorre esse GLP, vai sair pela torneira de GLP normal e as companhias vão consumir tudo. Mas e quando sair a gasolina? Vai ter onde armazenar? Tem tanque para armazenar? Porque a maioria dos carros estão parados no Brasil e não estão consumindo, por exemplo. Como continuar o refino se não tem onde escoar o produto?", indaga Alexandre.
O primeiro produto retirado no refino do petróleo é o gás, a 20ºC. À medida que se aumenta a temperatura, o petróleo é aquecido até evaporar. Esse vapor retorna ao estado líquido em vários níveis na torre de destilação, havendo a coleta de subprodutos do petróleo. É o processo de separação dos derivados e, depois do gás, têm outros, como gasolina, nafta, querosene e diesel, por exemplo.
De acordo do Alexandre, cerca de 50% do abastecimento de gás de cozinha em Minas Gerais vem da refinaria Gabriel Passos, em Betim, única do Estado. O restante vem principalmente de Rio de Janeiro e São Paulo, estado que tem enfrentado dificuldades. O presidente da ASMIRG ainda alerta para outras questões, ligadas à logística e à operação, que podem afetar no preço do gás.
"Se esses estados têm problema, sofremos com o abastecimento também, que tem vindo com restrição. Tem revendedor que fica quatro, cinco dias numa fila em companhia em São Paulo e Rio, às vezes de forma desumana, sem acesso a banheiro, por exemplo. Se um motorista fica uma semana na fila, meu custo aumenta. O consumidor não tem sentido o desabastecimento, porque muitos revendedores têm comprado com os outros. Uma coisa é comprar da companhia, a outra é na mão revendedor, que vai ser caro mas ele está fazendo um favor", aponta Alexandre.
Esse é o caso de Douglas Martins, revendedor da Copagaz no bairro Santa Amélia, região da Pampulha, em BH. Ele relatou que geralmente fazia pedido duas vezes por semana, mas que agora tem feito todos os dias na expectativa de aumentar o estoque. Como a carga da distribuidora tem demorado a chegar, a saída foi comprar com um amigo, que também é revendedor. Isso e outras dificuldades operacionais fizeram com que o gás que está vendendo tivesse um acréscimo de R$ 5,00, saltando de R$ 70 para R$ 75 desde a última semana.
"A gente pede e demora de cinco a seis dias pra entregar, e ainda vem uma carga menor. Tive que buscar com um amigo nosso em Betim, que é revendedor mas tem um estoque maior. As pessoas têm pedido de três a quatro botijões", conta Douglas. A orientação, mesmo diante do cenário, é para que não haja um aumento no valor do gás.
"Existe essa flutuação de preço na faixa de R$ 5,00, porque muitas vezes o revendedor tem que comprar com outros revendedores ou buscar isso em outro estado, o que aumenta o custo operacional para que o gás chegue ao consumidor. Estamos pedindo ao setor de venda para que não suba os preços, para que absorvam essa variação do aumento neste momento de pandemia, porque é uma questão humana. É preciso ser solidário com o consumidor", aponta Alexandre, presidente da ASMIRG.
A reportagem tentou contato com as distribuidoras Copagaz, Supergasbras e Ultragaz, três das principais com atuação em Minas Gerais, mas não teve retorno de nenhuma até a publicação desta matéria.
Petrobras se posiciona
A Petrobras informou, em comunicado nessa segunda (30), que está realizando compras adicionais de GLP dentro de seu programa de importação. Estão previstas as chegadas de três navios no porto de Santos, cada um com capacidade adicional de 20 milhões de kg de GLP (equivalente a 1,6 milhão de botijões P13, o comum botijão de cozinha). Um desses navios tinha chegada prevista para essa segunda, com os outros para os dias 6 e 10 de abril. As importações adicionais se somarão às produções das refinarias na região Sudeste.
Em nota, a Petrobras informou que "não há qualquer necessidade de estocar GLP neste momento, pois não haverá falta de produto para abastecer a população". Anunciou, ainda, uma redução de 10%, para R$ 21,85, no preço médio do botijão de 13 kg nas refinarias da Petrobras. Essa medida passou a valer nesta terça (31) e, no acumulado do ano, a redução será de cerca de 21%.
"A Petrobras conta com as distribuidoras e revendedores para que essas reduções do preço do botijão de gás cheguem até o consumidor final", informa. (Fonte: www.otempo.com.br)