A flexibilização gradual das restrições à circulação de pessoas daria alívio à economia, sem sobrecarregar o sistema de saúde.
A preocupação sobre os efeitos da restrição de circulação de pessoas para a economia tem feito o governo defender uma política mais branda sobre a quarentena. A defesa de uma revisão das regras encontra respaldo entre os membros do Ministério da Economia, que já projetam uma flexibilização gradual da quarentena partir de 7 de abril.
O período se refere à data final da restrição imposta no Estado de São Paulo. O governador João Doria (PSDB) determinou quarentena de 15 dias até essa data com o fechamento de estabelecimentos comerciais que não estejam entre os serviços essenciais, como alimentação e saúde. A tese é que a medida não deve ser renovada e que, a partir daí, a liberação começaria a ser seguida em outros lugares para o país "voltar à vida".
Membros da equipe econômica ligados às discussões têm evitado ser enfáticos sobre o assunto ao serem questionados e preferem dizer que estão, sobretudo, acompanhando o debate em torno do tema. Mesmo assim, deixam transparecer a opinião já expressa pelo ministro Paulo Guedes (Economia) de que, enquanto a liberação total poderia sobrecarregar o sistema de saúde, uma restrição total poderia sufocar a economia.
"O que podemos fazer? Evitar que medidas draconianas sejam tomadas e que gerem custos muito grandes lá na frente. No momento atual não dá para deixar a estrutura produtiva quebrar", disse o secretário de Política Econômica, Adolfo Sachsida, em conferência com investidores.
Segundo ele, as medidas corretas devem ser tomadas agora para proteger a economia não somente neste ano, como nos anos seguintes. O secretário ainda afirmou que o Brasil tem optado por anunciar medidas em etapas, e não em grandes pacotes, como os países ricos, por não haver tantos recursos.
"Ninguém sabe a duração exata dessa epidemia. Eu imagino que deve ser de três meses, então você se programa para três meses. Mas a prudência é importante, e se gastarmos todos os recursos agora e durar quatro meses?", afirmou.
Ele acredita, inclusive, que até mesmo o cálculo sobre a atividade neste ano vai ser difícil considerando o grau de imprevisibilidade acerca do impacto da pandemia. "Prever PIB neste ano é que nem prever câmbio", afirmou.
Mesmo antes do pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em cadeia de rádio e televisão, Guedes já vinha dizendo que, sob o ponto de vista econômico, uma restrição ampla ao fluxo de pessoas levaria a um desmoronamento do PIB.
O ministro defende que seja encontrada uma solução de equilíbrio, um meio-termo nas medidas de isolamento. Em entrevista concedida no último dia 16, ele recomendou que jovens seguissem com vida normal.
"Os idosos vão para casa, os mais jovens podem circular, têm mais saúde, têm mais defesa imunológica, e a economia consegue encontrar o meio-termo, porque, se ficar todo mundo em casa, o produto colapsa. Se ficar todo mundo na rua, a velocidade de contágio é muito rápida e você atinge no nosso sistema de saúde", afirmou na ocasião.
Embora apresente essa linha de argumentação, Guedes costuma dizer que a decisão final sobre o que deve ser feito com o país está a cargo do Ministério da Saúde e será obedecida pelo Ministério da Economia.
Na noite de terça (24), Bolsonaro defendeu, em pronunciamento, o fim do isolamento, chamado por ele de "confinamento em massa", e a reabertura de escolas e comércio.
"Algumas poucas autoridades estaduais e municipais devem abandonar o conceito de terra arrasada, como proibição de transporte, fechamento de comércio e confinamento em massa. O que se passa no mundo tem mostrado que o grupo de risco é o das pessoas acima dos 60 anos. Então, por que fechar escolas?", afirmou.
A fala foi criticada por diferentes lideranças políticas e por associações de profissionais da saúde. Se adotadas, as medidas vão na contramão das implementadas por dezenas de países ao redor do mundo e de recomendações de especialistas.
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